As pérolas marinhas do Jamor

Há já algum tempo reparo nas criaturinhas que frequentam a piscina do jamor, e constato que existe um grupo ainda grandinho de senhores da terceira idade que gostam de dar umas braçadas.
Dentro deste grupinho existem pérolas, senão vejamos temos um velhinho caquéctico que insiste em nadar com óculos e tubo de mergulho, mais ou menos como se estivesse a fazer snorkle no oceano, mas não um oceano qualquer, o Pacífico visto que o senhor vai tão devagar a nadar que parece que anda a ver peixes coloridos no fundo da piscina, eu diria que são mais rabos coloridos mas é o meu palpite...

A verdade é que esta calmaria dá para atrapalhar toda a gente, este velhinho obriga que se façam ultrapassagens constantes, o que é uma grande chatice.

Sempre que chego à piscina e vejo aquele tubo e depois aquela figurinha fininha que só não vai de escafrando porque não calha, respiro fundo para aí umas dez vezes para ganhar coragem e entrar na piscina.

A coisa piora quando vejo parte daquele grupinho sénior também dentro de água, são mais ou menos meia dúzia de velhotes reformados do tempo da Maria Cachucha, que embora tenham o dia TODO para irem nadar para a piscina, é no horário das 19h que resolvem fazer sempre o seu treininho.
Ninguém percebe o porquê daquelas alminhas não irem por volta das 16h da tarde ou logo de manhã “pela fresquinha” como eles gostam de dizer, não, o que eles gostam mesmo é de estar lá ao final do dia, no horário que é permitido às pessoas que trabalham.
E é vê-los encostados em banho de imersão, de molho, a ganhar fôlego para mais uma piscina de 50 metros, que é feita na melhor das hipóteses em aproximadamente 10 minutos, nas calmas quase que parados e aí vão eles, sem stress mas a stressar os demais, num ritmo impróprio para jovens de 20 e poucos anos que tal como eu querem acelerar o treino e desesperam com as multiplas ultrapassagens que têm de fazer ao longo duma pista.
Há também um destes senhores que tem rotas duvidosas e muitas vezes vai aos S, só não levamos com uma braçada do senhor por sorte tal é a má orientação que tem quando começa a nadar o crawl marés vivas.

Ora o estilo crawl marés vivas para quem não sabe, é aquele estilo que não existe como modalidade olímpica mas que vejo com alguma frequência na piscina do Jamor.
É um estilo muito próprio e consiste em rodar a cabeça de um lado para o outro em sincronismo com os braços nunca fazendo a respiração alternada com a cabeça dentro e fora de água, não, no estilo crawl marés vivas a cabeça vai sempre fora de água, de um lado para o outro... de um lado para o outro...é um bocado cromo mas OK, o pior é que mesmo assim o senhor não consegue ter um sentido de orientação calibrado e seguir junto da parte direita da pista.
Às vezes dá ideia que vem em sentido contrário um polvo a esbracejar e prestes a atacar-nos, tal é a figurinha que faz a malta que pratica o estilo crawl marés vivas.

Agora este último senhor, o polvo, tem tendência a esbarrar com quem nada em sentido oposto e isso é uma grande chatice.
É cada vez mais aborrecido ter de estar sempre a desviar-me das pérolas marinhas que por lá se banham.
Fosse eu multimilionária e tinha uma piscina aquecida só para mim, mas como ainda não saiu o euromihões (e não vai sair visto que não jogo) contento-me em observar os reformados com aspiração a atletas nas pistas olímpicas deste nosso Portugal.