segunda-feira, agosto 01, 2011

Naquele momento

parei para a escutar. O processo de cicatrização tem destas coisas, é suposto falarmos com os amigos aquilo que nos atormenta a alma.
Partilhar aquilo que se quiser contar, até que tudo pareça mais claro e menos pesado, pode muitas das vezes, ser a solução a abraçar.
No discurso concertado que já sabe de cor, apercebo-me que ainda pensa nele.
Que depois de tanto tempo, ainda faz planos a contar com ele. A ferida está aberta, ainda não o esqueceu. Opta por dissimular, e fazer de conta. Uma turbulência de sentimentos arrasta-a por dentro.
Muitas são as palavras que me dirige, poucas são as que consigo assimilar.
Nesse mesmo jantar conta-me que depois dele, e passados poucos meses, decidiu envolver-se com outros homens. Ainda que o amasse, achou que estava na altura de seguir em frente. Remeto-me ao silêncio, e continuo a escutar.
Oiço-a. Reflicto. Questiono.
Na minha cabeça uma única pergunta, como é que podes entregar o teu corpo ao mundo, se a tua alma está sepultada com ele?

2 comentários:

Diaconus Vagativu Nocte disse...

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís Vaz de Camões

Hippie disse...

Gostei da pergunta!