"Preciso que sejas eu - não como um filho, não, muito mais que isso. Um filho é uma outra hipótese de vida, é o que nós não fomos, na melhor das hipóteses herda-nos o lixo - angústias cegas, impaciências, o barro resistente à modelagem, o que não quisemos ser. Acabamos por enlouquecer de amor por eles para evitar olhar de frente o desamor de que nascem - no escuro de nós, inventados de paixões mortas e frustrações em série.
Conheci muitas crianças feitas no desespero de uma reconciliação, concebidas in memoriam da felicidade de outrora. Outras marcavam o auge exacto da paixão - o momento de esplendor antes da morte.
Todos os filhos nascem póstumos de um amor que já não flutua no ar que respiram. Tentativas, tentações de ampliar o conhecimento da vida, quando a vida só se deixa conhecer pela porta escura da ignorância, do desentendimento. Das energias assimétricas que nos permitiram isso a que chamamos humanidade - resíduo de resíduos, nascido do desequilíbrio da matéria."
Inês Pedrosa in Fazes-me Falta
Um comentário:
Magnífico! A mais pura verdade (que eu conheço).
Uma amiga postou no Facebook uma frase desse texto e eu então a procurei no Google, pela força da expressão em uma só linha.
Voltarei mais tarde! Quero postar minha foto no quadro de acompanhantes, mas agora o Blogger.com não está permitindo.
Prazer!
Suzana/LILY
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