quarta-feira, julho 22, 2009

A minha professora de religião e moral

foi uma personagem que me marcou muito na minha adolescência, caso contrário não teria pesadelos com ela ainda hoje.
Digamos que a criatura conseguiu distinguir-se como a professora que mais nos traumatizou durante toda a nossa adolescência.
A senhora tinha especial interesse por filmes que ninguém queria ver, e tinha gosto em partilhá-los connosco.
A selecção era do melhor, desencantados não sei bem de onde, eram filme escolhidos a dedo e que por isso nunca ninguém tinha ouvido falar, nunca tinham estado em cartaz, desconhecidos do público em geral, e todos eles deprimentes até à película.

O primeiro filme que ela passou tinha por intenção sensibilizar-nos para a questão do aborto.
Era um filme com tradução em português do Brasil que mostrava cenas no mínimo chocantes, de um feto a fugir de uma agulha com um comentador brasileiro praticamente histérico que dizia:
“Olhe! Olhe como ele foge, o feto está fugindo da agulha! O feto está sofrendo, está fugindo da agulha, nossa e que agulhão!”

Uma palavra: Credo.

Para começar este tinha sido uma péssima escolha, pensámos nós, de estômago ainda embrulhado lá saímos da malograda sessão de matiné, longe de imaginar que este era só o primeiro de muitos filmes “de terror” que nos esperavam.

O filme que se seguiu foi o de uma criança com problemas renais e que tem de receber uma transfusão de sangue.
Um sonho de filme, este devia esgotar bilheteiras caso tivesse ido parar ao cinema, sem dúvida um forte candidato aos óscares de Hollywood só pelo argumento.
Como não podia deixar de ser, o filme era um dramalhão.
Toda aquela angústia experimentada no primeiro filme voltava a repetir-se quando no desenrolar da estória, é descoberto que o sangue estava contaminado com HIV e o miúdo tinha ficado infectado com o vírus da sida.
Uma maravilha de filme, do best tendo em conta que praticamente todo o filme gira em torno da preparação de todos para a morte da dita criança. O drama familiar, o problema da sida...
Um filme de cortar os pulsos.
No mínimo.
Lembro-me que chorámos baba e ranho tal era a violência psicológica das imagens e do drama em si.
Chegou uma altura em que começou a ser usual levar lenços para aquelas sessões e perfeitamente natural sair delas com nariz à Rodolfo.

Depois de algum tempo já toda a gente tinha ganho autodefesas nas aulas de religião e moral, estávamos sensibilizadas para todo aquele afecto e carinho por parte da nossa querida professora, tudo era possível vindo daquela alminha.

É então que começa um novo filme, e este relatava o início das férias de 4 amigas nos USA, que acabavam as aulas e decidiam pegar no carro e ir de férias para um sítio paradisíaco, com muita gente jovem, muitas rambóiadas e muita festa à mistura.

A minha alma estava parva e a admiração era geral.
Estaria a professora a mudar?!
Este parecia ser um filme aparentemente normal, as personagens tinham a nossa idade, conduziam já com 16 anos, eram giras, divertidas, iam de férias juntas, how cool was that?!
Os primeiros 30 minutos do filme que visualizávamos disfarçavam tudo aquilo que ainda havia de vir.

Na tal viagem de amigas, enquanto as 4 raparigas cantarolavam os hits da altura, surge do meio do nada um vagabundo que é acidentalmente atropelado por elas e que invariavelmente morre.
Credo, a coisa começava a descambar.

O vagabundo é deixado na berma da estrada e o resto do filme retrata os conflitos entre elas, a omissão do cadáver, e o suicídio faseado de cada uma delas por não suportarem todo aquele desenrolar de acções.
As raparigas giras e divertidas do filme, estavam agora deprimidas, fortemente perturbadas, em conflito permanente umas com as outras, festas nem vê-las, só suicídios, muita melancolia, desespero, pessimismo, ansiedade, sofrimento... irra, uma grandessíssima bosta.

Mais uma vez a nossa querida professora tinha-se esmerado na escolha do filme, a sua pontaria continuava em altas e sempre a surpreender.

Foram desilusões após desilusões, cadê um filminho ao estilo do Dirty Dancing, ou assim um filminho assim do tipo... normal?!

Não ela não passou esses filmes, e é por isso que hoje posso dizer que qualquer filme de terror é para mim uma anedota depois de tudo o que vi, nenhum se compara à introdução sádica que tive em tenra idade por esta criatura em tudo sui generis.

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